A artroplastia total de joelho é uma cirurgia cada vez mais frequente. E apesar do progressivo desenvolvimento dos implantes, um número crescente de cirurgias de revisão de artroplastias totais de joelho deverá ser realizado. A revisão de artroplastia total de joelho é uma cirurgia sempre desafiadora, e traz resultados clínicos menos satisfatórios que a artroplastia total de joelho primária.
O planejamento adequado da cirurgia a ser realizada é certamente a etapa mais importante deste procedimento. Este planejamento engloba diversos fatores a serem analisados e inclui: dados da cirurgia realizada previamente, motivo da revisão da artroplastia total de joelho (séptica ou asséptica), exame físico e avaliação radiográfica adequada do paciente, entre outros fatores.
Existe uma gama de opções de materiais de implante muito grande. A escolha do implante a ser utilizado nem sempre é simples e depende, principalmente, de três fatores: quantificação da perda óssea, avaliação do déficit ligamentar e função do mecanismo extensor. A avaliação das deficiências ligamentares e da função do mecanismo extensor do joelho é realizada, geralmente, através de dados obtidos no exame físico, informações das cirurgias realizadas previamente e nos exames de imagem.
Poucos trabalhos foram publicados avaliando a importância e a funcionalidade de classificações de perda óssea. O objetivo deste trabalho é analisar a classificação para defeitos ósseos no joelho Anderson Orthopedic Research Institute (AORI), através de radiografias pré-operatórias, e avaliar sua capacidade de prever a necessidade de uso de compensações para defeitos ósseos no intraoperatório, seja por meio de blocos, cunhas ou enxertos ósseos em revisões de artroplastia total de joelho.
Trinta e um joelhos operados em uma série consecutiva de casos de cirurgia de revisão de artroplastia total de joelho foram analisados retrospectivamente. Critérios analisados: número de cunhas ou enxertos ósseos estruturados utilizados para preenchimento dos defeitos ósseos; localização das cunhas e enxertos ósseos utilizados e espessura média do polietileno utilizada.
O número médio de cunhas ou enxertos ósseos utilizados em cada joelho variou de maneira crescente entre os grupos (grupo I: 1,33; grupo IIA: 2; grupo IIB: 4,33; grupo III: 4,83) (P = 0,0012). As localizações mais comuns foram: medial na tíbia e posteromedial no fêmur. Não houve diferença estatisticamente significante na espessura do polietileno utilizado. Também houve uma correta correlação entre a localização dos defeitos e localização das cunhas utilizadas e a classificação AORI se mostrou útil para a programação pré-operatória nestes pacientes.
Nesta análise inicial não foram discutidos os resultados funcionais pré e pós-operatórios; portanto, novos estudos devem ser realizados para avaliar se existe alguma correlação entre a classificação AORI e o prognóstico funcional do paciente submetido à revisão de artroplastia total de joelho.
A classificação AORI para defeitos ósseos no joelho baseada em radiografias pré-operatórias mostrou correlação crescente com a necessidade de utilização de cunhas e/ou enxertos estruturados na revisão de artroplastia total do joelho; porém, até 46% dos joelhos apresentaram falhas ósseas de até 5mm não diagnosticadas através das radiografias pré-operatórias, demonstrando que essa classificação não é capaz de antecipar totalmente os achados intraoperatórios.
Referência:
VALUE OF PREOPERATIVE RADIOGRAPHIC EVALUATIONS ON KNEE BONE DEFECTS FOR REVISION ARTHROPLASTY. Rev Bras Ortop. 2015 Nov 4;47(6):714-8.